Sobrinho

Meu amado sobrinho,

Aqui quem te fala é o tio Moisés, amigo de outras vidas, companheiro de sempre.

Fui barbeiro na última existência. Sofri ao atender ao público e sofri na convivência com os colegas.

Nesse ramo tudo é possível para se obter uma fatia de clientes, um espaço que seja mais rentável.

Quando trabalhei no Mercado Público, desde o momento que aprendei a fazer barba, até adquirir aquele espaço, lutei muito.

Ser barbeiro no Mercado Público era o que eu mais desejava, possuir aquele espaço, comprar aquela sala.

A minha luta era para obter clientes, pessoas que vinham das ilhas, do interior, da cidade vizinha. Aquele era um espaço muito cobiçado por barbeiros na minha época.

Hoje, décadas depois de desencarnar, percebo que a minha luta não era por dinheiro, mas por prestígio.

Minha ansiedade por ser um barbeiro reconhecido me levou aos caminhos da má alimentação, do sedentarismo e da ociosidade. Como resultado, deixei a terra ainda muito cedo, deixando a tua tia a cuidar de dois filhos.

Eu vaguei pelo Mercado Público por muitos anos após a minha morte. Chegava na barbearia no mesmo horário de que quando eu era vivo, imaginar limpar o chão e organizar a cadeira.

Foi uma oração tua, meu querido sobrinho, que me dei conta que poderia ajudar outros.

Com exceção de alguns familiares, fui esquecido pelos meus clientes e, toda a luta de muitos anos, evaporou no ar.

Somente eu e apenas eu, guardo as dores e as alegrias daquelas manhãs no Mercado Público.

Estou aqui, na evocação percebi que a tua mãe precisa de ajuda, aceito o convite sobrinho, vou fazer o melhor que posso.

Vamos rezar, vamos esperar pelo melhor, mas esse ramo é mesmo assim. Por isso, não fique surpreso.

Mas no final, meu querido, tudo vai ficar bem.

Tio Moisés, Espírito de um barbeiro

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