Irmão querido: psicografia de um desgraçado

Irmão querido, 

Nessas horas em que o remorso me consome, queria lhe dizer da dor que me consome.

A pistola destravada, a brincadeira, o disparo acidental.

Sei que não acreditas, mas foi minha irresponsabilidade que te matou o corpo.

Brinquedo novo, prateado e niquelado, um poder maligno nas mãos e a vontade de apontar-te a arma.

Maldita hora.

Gatilho leve demais.

Cápsula na câmara de tiro, projétil fumegante. 

Alucinado com a vida louca, não percebia a besteira em lhe apontar a arma. Naquela manhã eu falei com o pai, ele estava quieto, parecia saber que algo de muito ruim estava por vir.

O tio Alonso com aquela mania feia de ficar mostrando arma para todos, inclusive crianças e adolescentes.

A vó Augusta ainda me alertou para não mexer nas coisas do tio. Eu estava sendo avisado. 

Quando fui preso a mãe chorou, dois filhos de uma vez, a desgraça recaiu sobre nosso lar tão alegre. 

Meu temperamento difícil... Na cadeia arrumei bronca, infelizmente, com o chefe de uma gang... fui enforcado dia 14 de julho de 2015. 

Papai quase enlouqueceu quando recebeu a notícia... Era demais.

Eu vi tudo daqui, angustiado. Nada podia fazer, fui eu que disparei a arma, teria que assumir as consequências.

Na minha calça jeans, mãe, deixei um bilhete para a Gerusa, ela estava me ajudando na faculdade e tem algo que ela precisa saber.

Irmão, não sei onde você está, apesar de mortos, nos distanciamos... não consigo lhe encontrar.

Onde estiver, preciso do seu perdão, do seu amor, da sua compreensão.

Um conhecido me trouxe a essa sala, você não está por aqui, mas vejo seu Pedro vizinho de casa, quem sabe daqui a pouco nos encontramos...

Igor Grinmaldi Fernandes, Espírito de um culpado       

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