O capital
Queridos compatriotas,
Venho, por meio desta, vos esclarecer sobre o capital. Errava eu ao acreditar que capital era dinheiro, não, não é. É, na verdade, uma armadilha tão pior quanto.
Minhas posses me conduziram ao limbo do umbral, tão facilmente como se guia um cãozinho pela coleira. Fiquei cego, meu patrimônio inflou meu orgulho. Eu tinha tanto amor próprio que não via o mal que fazia aos que me cercavam.
Tive escravos, tive serviçais, tive muito dinheiro e presenciei muitas honrarias em meu nome. A casa grande, sempre lotada de interesseiros intrépidos, resistia às orações da minha concubina, muito católica.
Surrei, esbofeteei e humilhei serviçais. Eu estava tão apegado aos bens materiais e à falsa impressão que eles traziam que sucumbi fatal ao atravessar o leito tumular.
O patrimônio que acumulei, diziam, abasteceria dez gerações da minha prole. Ledo engano, tudo se desfez com a morte.
Tive capital para comprar terras, mas nunca conheci a gratidão;
Tive dinheiro para adquirir peças maravilhosas, mas nunca conquistei um sono tranquilo;
Tive posses a perder de vista, mas não conseguia conquistar a tranquilidade no coração.
Passei por duras provas e, depois de reencarnar duas vezes como mendicante, vejo com clareza a necessidade de aprender a amar. Hoje me sinto um pouco melhor, aprendi o sentido da piedade e da compaixão, entendi o mal que fiz e estou na luta por reparar cada erro.
Vejo naquele que outrora esbofeteei, a doce dama que me prepara uma vianda.
Vejo naquela que outrora abusei sexualmente, o transeunte que me cospe na cara e urina sobre meu corpo imundo.
Vejo naquele que outrora usurpei a vida, o proprietário da loja que me expulsa do seu alpendre.
Preciso dessa humilhação para poder vencer a expiação! A se eu tivesse seguido os mandamentos de Jesus, teria sido bondoso e caridoso desde o princípio.
Aviso-vos irmãos, cuidado com o capital, a fortuna é uma provação perigosa.
Muito cordialmente,
Gonçalves Chaves, estancieiro arrependido
Venho, por meio desta, vos esclarecer sobre o capital. Errava eu ao acreditar que capital era dinheiro, não, não é. É, na verdade, uma armadilha tão pior quanto.
Minhas posses me conduziram ao limbo do umbral, tão facilmente como se guia um cãozinho pela coleira. Fiquei cego, meu patrimônio inflou meu orgulho. Eu tinha tanto amor próprio que não via o mal que fazia aos que me cercavam.
Tive escravos, tive serviçais, tive muito dinheiro e presenciei muitas honrarias em meu nome. A casa grande, sempre lotada de interesseiros intrépidos, resistia às orações da minha concubina, muito católica.
Surrei, esbofeteei e humilhei serviçais. Eu estava tão apegado aos bens materiais e à falsa impressão que eles traziam que sucumbi fatal ao atravessar o leito tumular.
O patrimônio que acumulei, diziam, abasteceria dez gerações da minha prole. Ledo engano, tudo se desfez com a morte.
Tive capital para comprar terras, mas nunca conheci a gratidão;
Tive dinheiro para adquirir peças maravilhosas, mas nunca conquistei um sono tranquilo;
Tive posses a perder de vista, mas não conseguia conquistar a tranquilidade no coração.
Passei por duras provas e, depois de reencarnar duas vezes como mendicante, vejo com clareza a necessidade de aprender a amar. Hoje me sinto um pouco melhor, aprendi o sentido da piedade e da compaixão, entendi o mal que fiz e estou na luta por reparar cada erro.
Vejo naquele que outrora esbofeteei, a doce dama que me prepara uma vianda.
Vejo naquela que outrora abusei sexualmente, o transeunte que me cospe na cara e urina sobre meu corpo imundo.
Vejo naquele que outrora usurpei a vida, o proprietário da loja que me expulsa do seu alpendre.
Preciso dessa humilhação para poder vencer a expiação! A se eu tivesse seguido os mandamentos de Jesus, teria sido bondoso e caridoso desde o princípio.
Aviso-vos irmãos, cuidado com o capital, a fortuna é uma provação perigosa.
Muito cordialmente,
Gonçalves Chaves, estancieiro arrependido
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