Quem sabe um dia

 Então, neste exato momento que vos escreve é uma pessoa profundamente atormentada. Eu estou muito consternado, em profundo sofrimento. Não porque alguém morreu, não. Graças a Deus meus familiares estão bem. Mas alguma coisa dentro de mim morreu.

Sou pai de dois filhos lindo e mais uma bebê vindo, não sei se é a ansiedade da 36 semana de gestação, mas acontece que minha esposa está muito agressiva, na verdade absurdamente violenta e descontrolada. Ela tinha em mim o alvo, mas agora está na Mari, cada vez mais sem noção das coisas que fala, ofensas, desrespeito, humilhações.

Talvez esse texto chegue até vocês daqui a 50 anos, antes ou mais, por enquanto preciso escrever para me entender, A autoagressão, a violência, a ausência de ajuda. Eu nao consigo nem mesmo descrever a escuridão que nos cercou, não por dívidas, nem infidelidade, nem nada disso, mas por profunda ignorância. As trevas nos tomaram conta, eu temo pela minha família e minhas crianças, na verdade ninguém nos ajuda, ninguém está nem aí para o que estamos passando. É uma agonía sem fim.

Eu preciso de ajuda, já acendi vela, pedi a Deus, aos bons espíritos que me socorressem, mas ainda nada nos atendeu, nem mesmo a espiritualidade, eu confio, confio muito nos designos de Deus. Mas parece que os relatos mais tenebrosos são, realmente, verdadeiros. No momento derradeiro e final, até mesmo os anjos, te viram as costas.

Mesmo assim, estou aqui, num misto de gigantesca frustração e dor, às portas do suicídio, sem nem mesmo um olhar amistoso e compassívo. Olhar este que já ofereci a centenas de pessoas, mas quando é minha vez de receber, tudo que ganho é desdém.

É muito ruim ser homem numa cultura como essa. Nós homens somos incubidos de prover conforto e qualidade de vida para os nossos, somos responsáveis pelos bens materiais e por não deixar falar nada. O triste disso é que ninguém realmente se proecupa conosco, ninguém nem mesmo se importa com os nossos sofrimentos.

Eu senti inveja daquele rapaz de 42 anos que se matou no quilombo, devia ser realmente muito difícil aturar uma mulher daquelas. Onde quer que ele esteja, queria que ele soubesse que eu o entendo. Humilhado, despresado, desrespeitado, sim eu o compreendo muito, um mundo machista como esse, só nos resta o suicídio. Eu realmente não sei mais o que fazer, procurei todos os médicos possíveis, de psiquiatras a neurologistas, tudo que encontrei foram pessoas que não estavam realmente interessadas nos meus problemas, mas eu terminar logo a consulta.

Eu me deparo todos os dias com grandes problemas étnicos e morais, injustiças, incompreensões, lamúrias diante da graça da Vida, onde tudo é belo e pacífico, mas infelizmente, diante de mim só passam pessoas extremamente violentas, ignorantes, mal educadas e agressívas. 

Será que alguém irá lembrar de mim pelo o que realmente fui? Carinhoso, amoroso, cordial, amigo, querido e bondoso, pois é, parece que até isso é uma maldição. O fato de ser carinhoso e cuidadoso me legou um passado de dezenas de mulheres que se aproveitaram disso, me distruindo por dentro e, ao que tudo indicado, o meu casamente também está indo por esse lado. A fato de eu ser amistoso, amoroso e compreensivo gerou uma mulher estupida, violenta e que me falta com o respeito a cada minuto do dia, inclusive na frente dos familiares dela.

E por ser responsável e cuidar de dois fihos lindos e ter mais uma bebê a caminho, eu acabo permitindo esses abusos e assédios, mas se me matei, saibam que a culpanão é dos meus familiares, mas minha mesma, por eu ser permissivo com esses abusos, desde de criança, deixando abusarem de mim, me humilhando sem reagir, para ser um bom garoto, bem comportado, para ganhar a aprovação da minha mãe, permiti milhares de violações do psiquico, logo começou com as autoagressões, depois foi piorando para o envenenamento, alcolismo, socos e tapas na cara em que eu sentia meu cérebro "estalar" dentro da cabeça. Cada agressão, ou crise de ansiedade, em que culminavam nas agressões, eu levava uma semana e meia até a dor de cabeça desaparecer.

Coitado de mim, como é triste a pessoa olhar para si mesma como muito dó, com pena, piedade, sabe... aquela pena de doer os ossos, não posso cobrar nada da espiritualidade e de Deus, talvez todo o bem que eu tenha feito, na verdade foi um grande curso de otário, uma capacitação para ser trouxa, infelizmente orientado pela religião.

Depois de tanto tempo, você que está lendo isso, saiba que não há nada de especial na terra além de dor e sofrimento. O próprio prazer e desejo são como disfarces para mais dor e sofrimento, ao final de contas, temos que aplaudir Buda, ele estava certo em todos os sentidos. É nesse ciclo de sofrimento que me sinto, nesse misto de profunda angústia e frustração. Depois de ter conquistado meu tão sonhado objetivo, de dar aula na faculdade do meu coração, acabei por assumir um fardo que só me puxa pra trás, que só me destroi e magoa, numa espiral de humilhação e agressividade.

Só para vocês entenderem, ao cordar às 8h da manhã, já preciso lidar com gritos e xingamentos, se não mais para mim, mas para meus filhos, mesmo que fosse o hormônio da gravidês, e parece que isso já beira o masoquismo absoluto e eu sou o fruto delicioso dessa tortura. Não dá mais para ser forte, não consigo mais ser tolerante, Jesus cagou pra mim, depois de uma oração fervorosa em seu nome, senti dezenas de milhares de entidades ao meu redor, me pilhando para a mutilação.

Assim como aquele judeu prisioneiro que, caso ele conhece Deus, muitas desculpas ele teria que pedir, atrocidades assim nos deixam claro que no pior da dor e sofrimento só nos resta a resignação, porque ajuda não teremos, mas não teremos mesmo.

Pode ser que seja o meu ego falando, mas em geral acho que é o limite mesmo, o senso de que já deu, que não consigo avançar mais, afinal homens não podem fraquejar, não é mesmo?

 A certeza que se eu partir pelo suicídio, amanhã serei esquecido e trocado com muita facilidade, como dois colegas professores universitarios ano passado, se mataram e ninguém mais lembra deles, ninguém mesmo. Foram substituídos aos risos, inclusive com pessoas se engalfinhando pelas vagas deixadas. O ser humano é podre, é imundo, é amoral, imoral e arrogante. Talvez estejamos aqui para padecer na dor, esse nosso martírio e grande mistério. 

Não questiono o amor de Deus, mas questiono a realidade da injustiça social, temos tudo em casa, comida farta, internet, TV, som, banheiro e boa camas, mas tudo isso não é capaz de acalmar a agressividade e estupidez da minha esposa que reclama de barriga cheia. 

Eu não aguento mais os gritos dela, não aguento mais o egoísmo dela, a última vez que ela demonstrou carinho foi em 2015, quando fiquei muito bravo por ela ter pisado no diário do meu professor, fora isso nunca mais. Eu não estou aguentando, sei que me matar não vai resolver o problema de ninguém, pelo contrário, é um ato covarde de fuga e só vai aumentar os problemas. Mas eu sinceramente quero que se foda, a dor é tão grande, é justamente o que eles falam, ele não quis matar a vida, mas a dor dentro dele.

Tenho alguns inimigos a quem tentei pedir desculpas, mas o imbecíl piorou a situação na sab sul em Pelotas, uma inimizade que infelizmente levarei para túmulo. Cara, eu não mereço isso, essa dor das feridas acumuladas é o que me detona, afinal sou um ser humano. Só um ser humano, antes ter vivido uma vida de soberania, de aristocrata, do que uma vida de servidão... não sei se dá mais tempo, mas tudo que quero é sair do cativeiro da minha mente.

Obrigado por tudo!

Marlon Pestana  

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