A História de Malco

Oi mensageiro,

Que a Paz esteja conosco,

Venho de muito longe para lhe contar minha História.

Meu nome é Malco. Nasci pelo ano 10 da nossa Era, numa comunidade de pastores perto de Betsaida. O terreno acidentado abrigava pequenas glebas de pastoreio. Meu pai era pastor e minha mãe tecelã.

Tive modesta infância junto de animais domésticos. Aprendi a lida de campo e ajudei meu pai por um tempo. Quando fiz 18 anos parti para Jerusalém.

Deixei a família por um futuro melhor. Tentei trabalho na lavoura comunal, mas não consegui. Transeunte na rua fui convidado por um pretoriano a conhecer o pátio do Templo.

Fiquei encantado com as vestes romanas. As armas me despertavam poder e o Templo era de uma riqueza exuberante. A riqueza e o poder logo me contaminaram e passei a adotar as vestes romanas, usar as armas e frequentar o Templo.

Lá conheci Anás, sogro do sumo sacerdote, por quem fui muito bem tratado. Interessavam-se pela minha adesão ao exército romano e minha familiaridade com a cultura dos patriarcas hebraicos.

Simpático às práticas opulente do Templo, rapidamente fui convidado a fazer parte dos servos do sumo sacerdote. Essa espécie de convênio entre romanos e doutores judeus me fez muito bem.

Enriquecia e sentia que ali era meu lugar devido, fiz de Jerusalém a minha casa. Na véspera dos meus 20 anos um falatório generalizado espalhou-se por toda Israel.

Um curador, vindo em nome do Pai, se dizia o Messias prometido. Suas curas repercutiam por todos os lados. Seu nome era Jesus.

Na véspera da Páscoa do ano 33 fui chamado a servir no Templo, com a promessa de Caifás, aumento do soldo e longas férias para visitas do meu antigo lar.

Uma noite mudaria tudo isso. Fui acordado às pressas com os dizeres: peguem as armas e as vestes, o sumo-sacerdote levará o Filho de Deus à Pilatos. Essas palavras ecoaram na minha alma.

Acostumado a escutar notícias de um homem puro, santo e benfeitor. Por onde passava, trilhas de rosas emergiam do solo, diziam. Falavam da fonte de alegria e felicidade desse Nazareno, mas precisava eu me juntar à trupe de captura.

Antes da primeira noite estávamos à postos e preparados. Orientávamos por um homem do bando do Curador, chamado Judas, que nos havia informado sobre o lugar de estada de Jesus naquela noite.

Andamos longas horas em meio às oliveiras. Três horas depois, afastado dos muros da cidade, sentimos o cheiro e o estalar de pequena fogueira, com brasas ainda fumegantes.

A luz dos archotes pouco a pouco clareava o mato. Ao longe avistamos um vulto alto e esguio. Durante a aproximação fomos recebidos por este homem alto.

Apresentava uma barba cerrada, firme e compacta de cor castanha. Cabelos com longos cachos cobriam os ombros estreitos e preenchidos por manto de linho pardo, meio esfarrapado, que escorria pelo corpo até os pés. Sandalhas de couro surrado protegiam os pés, deixando escapar dois ou três dedos por rasgos.

Seus olhos profundos, resplandeciam uma claridade inigualável no meio da escuridão. Lábios finos e nariz pontudo ornavam um suave sorriso, muito acolhedor.

Sentimos todos uma estranha felicidade ao se aproximar deste homem. Logo avistamos mais duas ou três pessoas junto do que nos recebeu.

Caifás olhou a todos nós, como que cobrando de Judas a sua parte do acordo. Logo, aquele homem baixinho deu alguns passos a frente e escutamos todos a vós do homem procurado.

Escutei duas perguntas. Uma endereçada ao sumo-sacerdote: irmãos, a quem buscam, a quem estão procurando? E a outra pergunta foi feita a Judas, já diante de si: Amigo, a que viestes?

Arrepiei todo, vi um beijo estalado no rosto de Jesus. Caifás mais um vez me olhou. Os homens frente a frente trocaram mais umas palavras. Eu estava apreensivo, mas por ordem, tive que avançar.

Pulei sobre Jesus e segurei-Lhe os braços. Nenhuma força Ele me opôs. No mesmo instante, um homem chamado Cefas, dito Shimonn Bar Jhonas ou Simão Pedro, desembainhou uma lâmina de um côvado e meio de comprimento e três polegadas de espessura.

Estava afiada como só um pescador sabe tratar uma lâmina. Cortava até a alma. Ao tocar em seu Mestre, Cefas avançou sobre mim, golpeando-me com força o rosto com a espada.

Atorou fora minha orelha, junto com uma parte da bochecha, caindo a pele sobre o ombro. A dor foi escruciante. Horrível. Dor aguda e agoniante.

Me ajoelhei de tanta dor. Jesus voltou-se para Cefas e o repreendeu dizendo: Pedro, embainha a tua espada, porque quem com ferro fere, com ferro será ferido ou quem com a espada mata, pela espada perecerá.

Olhei ao lado e fui abraçado por Jesus. Ajoelhou-se diante de mim e disse: Malco, acalme-se. Repousou sua mão no meu rosto. Senti um calor no lado esquerdo da minha face. Lágrimas copiosas brotavam dos meus olhos, resultado de uma emoção que até hoje não sei explicar.

Ele sabia meu nome. Sabia quem eu era. Conhecia-me intimamente.

Um misto de amor, alegria, felicidade, uma exaltação da alma. Um amor incondicional. Senti minha alma estremecer. Me acolheu em seus braços e me levantou.

Ao me levantar, estava a minha orelha restituída à caveira. Restava apenas as manchas de sangue nas minhas vestes. Outros soldados avançaram e O levaram.

Eu chorei tanto que voltei a me ajoelhar. Ainda escutei Anás gritando: já te tornaste um deles? fraco!

Fiquei dois dias sentado no pátio do sinédrio, pensando, pensando e pensando. Não conseguia entender tanto amor.

O alarde continuou e nos dias seguintes Jesus foi crucificado cruelmente. Eu deixei Jerusalém. Voltei para minha terra natal.

Eu pago dolorosamente pelo engano que cometi. Devia ter ficado ao lado de Jesus, protegendo-O, amando-O, adorando-O.

Desencarnei nos pastoreios de meu pai, em Betsaida, no ano 83.

Jamais me esquecerei de Jesus, reencarnei muitas vezes como sacerdote cristão, e mesmo assim ainda sindo necessidade de redenção.

Com muito amor,

Malco, servo do sumo-sacerdote aos tempos de Jesus.

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